domingo, 25 de julho de 2010

Como viver sem.

Tinha prometido a mim mesma que sempre que pudesse falaria sobre isso. Evitei como sempre evito tudo que machuca de verdade e ao começar a pensar nisso ri como sempre, tentando levar do jeito mais leve possível e tentando pensar que na vida tudo tem seu lado bom, mas com meus olhos cheios de lagrimas impossivelmente mais pessoais, que dessa vez são só minhas, porque existiu de verdade.
Chegar em casa aperta o coração. O cheiro que está em cada parte dessa casa me destrói cada vez que abro a porta, entrar na cozinha e preparar algo e, como sempre, deixar algo cair no chão me faz passar a fome. Respiro. Acordar sem ninguém em casa, me faz não querer deixar a cama e não deixar a cama me lembra mais uma vez da companhia. Respiro mais uma vez. De uns anos pra cá, trazer alguém em casa e não tocar no nome, não lembrar de olhar pro chão, de avisar todos os cuidados.
Passar horas de tédio e não ter uma companhia pra ficar deitada ao meu lado enquanto eu cantava músicas que nem escutava mais, se é que um dia pode realmente escutar do jeito que a gente escuta.
Antigamente era correr o corredor te esperando correr atrás de mim, depois de um tempo era andar mais devagar pra esperar tua lentidão.
Hoje fiz comida a mais pra mim, quase obriguei a minha mãe a comer. Não sabia que quando sobrava comida no prato, ela ia pro lixo. Afinal, você não era lixo.
Há 15 anos atrás meu pai viu meu olho brilhar como ele diz que nunca mais viu e você tão pequena foi o melhor presente que já tive e a nossa ultima noite juntas foi assim, você mesmo sem olhar com o brilho, mesmo sem força levantando pra sentir que eu estava lá. E eu estava, você estava.
Agora faltou luz, o computador vai desligar, não tenho quem procurar e quando perguntarem com quem eu estou em casa, eu vou estar sozinha de verdade.

Quem mais?

tudo o que fui e tudo que vou ser,